terça-feira, 10 de março de 2009

Não se deixe enganar*


Enquanto você imagina estar protegendo a Natureza, em verdade pode estar apenas aumentando o lucro das grandes corporações

Por Ariane de Assis Jordão
ariane@universoespirita.com.br

A emissão de gás carbônico na atmosfera do nosso planeta é o problema ambiental mais sério que enfrentamos no presente. As previsões para o clima e, especialmente, para a vida humana, num futuro não muito distante, dizem que, a menos que consigamos diminuir a emissão de gases de “efeito estufa” em pelo menos 50%, o aquecimento global provocará efeitos extremamente danosos. Estamos diante de uma catástrofe anunciada. O derretimento de calotas polares e geleiras irá elevar o nível das águas dos oceanos, fazendo desaparecer ilhas e faixas litorâneas densamente povoadas. O superaquecimento das regiões tropicais e subtropicais intensificará o processo de desertificação. A destruição dos habitats de espécies vegetais e animais fará com que elas desapareçam. As mudanças de temperatura irão multiplicar as secas, enchentes e furacões. E a previsão é de fome para metade da Humanidade.
Como se vê, é um problema que só se resolve encontrando novas formas de produção de energia e de bens, alternativas para o uso dos veículos movidos com derivados de petróleo e, gradativamente, substituindo a gasolina e o diesel por outros combustíveis. Enfim: diminuindo a emissão de gases.
No entanto, alguns artifícios de marketing são utilizados pelas indústrias para adiar o que é urgente. Um deles virou instrumento de publicidade de uma rede de postos de combustível, que anuncia: “abasteça e neutralize o carbono emitido pelo seu carro”. A idéia consiste num cartão de crédito que é usado para pagar abastecimento em postos credenciados e, segundo informam, parte do valor pago é investido em programas de neutralização de carbono como, por exemplo, em plantio de árvores.
A campanha recebeu validação de uma empresa de auditoria e certificação de produtos, a qual garante haver sido desenvolvida “uma metodologia que lhe dá o embasamento teórico e estabelece as equações necessárias para chegar às estimativas de emissões de gás carbônico a partir do uso do cartão nos postos”. Isto não está em discussão.
Contudo, relatório publicado na revista científica Nature diz que algumas crenças sobre as árvores e o seu papel na absorção de carbono podem estar erradas. Ele afirma que jovens florestas que acumulem materiais orgânicos em decomposição podem emitir mais CO2 que são capazes de absorver.
Além disso, “neutralizar” significa “anular, eliminar”. Não aparece no dicionário como sinônimo de “compensar”. Isto resume um dos aspectos falaciosos da campanha: fazer você pensar que pode eliminar um problema quando está simplesmente fazendo uma compensação, compensação essa condicionada ao fato das árvores prometidas serem efetivamente plantadas e dos estudos científicos estarem errados.
O maior engano, porém, está em achar que se resolve o problema do aquecimento global pagando para alguém plantar árvores enquanto se continua poluindo o meio ambiente.
Há muito tempo em nossa sociedade têm sido propostas soluções com respeito à Natureza que não envolvem verdadeira conscientização e mudança de atitude, mas apenas a crença de que investimentos e tecnologia darão conta dos estragos que temos feito em nosso planeta. A realidade é que, ou paramos de jogar lixo em nossa casa, ou vamos morrer atolados e sufocados por ele. Enquanto nos enganarmos por soluções falsas ou paliativas, estaremos agravando o problema e diminuindo nossas chances de resolvê-lo.
Precisamos reconhecer nossa responsabilidade moral diante dos seres viventes na Terra e de nós mesmos, e operar transformações profundas em nossa forma de viver, em vez de continuar fazendo o mesmo que sempre fizemos e dando dinheiro para alguém que pode deixar nossas consciências menos pesadas, enquanto contabiliza seus lucros.

Para saber mais:
- Aquecimento Global Brasil, vídeo.
- Plantar uma Árvore é Ótimo, artigo disponível no Portal Aprendiz.

ARIANE DE ASSIS JORDÃO é educadora e pesquisadora espírita.
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Este artigo foi publicado na Revista Universo Espírita, Edição 62

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